Atestado de boa saúde

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] fev./2011

Argollo Ferrão, A. M. de (2011). Atestado de boa saúde [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/atestado-de-boa-saude/>.

Atestado de boa saúde
Ah, como minha testa pesa !
Pesa e ninguém se importa
Porque de fato a ninguém interessa
Mas pesa mesmo assim,
A minha testa pesa !

E os olhos que tudo veem ?
Os meus não enxergam muito bem,
Todavia, como a testa,
Pesam sobremaneira,
Os meus olhos pesam também !

E há quem diga que não,
Que isso não passa de lamúria
Sem nexo, sem base, sem eira nem beira
E o peso que ora carrego — pasmem ! —
A ninguém mais pesa.

Ninguém franze a testa,
Ninguém esfrega os olhos,
Ninguém se sente cansado (...)
Quem é que expurga ou empesta ?

Minha testa e meus olhos expressam
O semblante que estampa o meu ser,
Todavia não reconheço — pasmem ! —
Os traços que se mostram no espelho.

Ser metafísico, insuspeito, modesto,
Iluminado, embora esteja no caos,
Enquanto meus olhos não se abrem
Eis que a minha testa pesa.