Poema concebido em Campinas [SP/BRA] set./2011
Argollo Ferrão, A. M. de (2011). Barriga [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/barriga/>.
Barriga
Sim, falta-me o ar, Respiro fundo — ah, como é bom respirar ! Encho os pulmões, puxo o ar, inspiro, Prendo um pouco, e depois solto todo o ar. Esvazio os pulmões, Respiro — como sempre, sem pensar. Encho o abdômen — estou barrigudinho ! Inspiro, prendo, e depois solto o ar. Mas, calma ! Não tenha pressa, Me deixa acabar de falar. O sangue renovado irriga Todos os órgãos — inclusive os da barriga ! E olha que eu estou assim, Um tanto barrigudo, De olhar perdido e sem expressão, Prestes a sentir no coração — um infarte agudo ! Inspiro, respiro, tento me concentrar, Ficar calmo, olhar para o meu umbigo E pensar — que estou mesmo barrigudo ! Logo meu sorriso se desfaz num semblante carrancudo. Não dá para pensar noutra coisa Que não seja no meu estado zen. Zen-ternura, zen-coragem, zen-cintura, Zen-gordura, zen-voragem, zen-fritura. Eu quero ficar zen. Por isso eu rezo todo dia E prezo a liturgia Que eleva minha barriga A um quase sagrado estado zen. Mas nem com reza brava eu fico bem, Pois rezo sem de fato crer, E sei que somente com muita fé É que se consagra o que se tem.