Brinquedo de papel machê

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] mai./2011

Argollo Ferrão, A. M. de (2011). Brinquedo de papel machê [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/brinquedo-de-papel-mache/>.

Brinquedo de papel machê
Vê lá se eu vou dizer alguma coisa,
Só vou rezar, orar por você,
Vou lhe benzer... lhe bendizer
E depois me calar,
Pois calado me comunico melhor
E verifico assim os meios
Que me permitem meditar,
Voar, sair do corpo sem receios,
Sem melindres, sem hesitação,
Dar uma volta pela Via Láctea,
Realizar sublimes passeios
Sem hora para voltar,
Sem hora para ditar
O ritmo de uma possível agenda
Semi-mítica... que não marca o tempo,
Não marca o ponto, não marca nada.
Vê lá se eu tenho cacife
Para entrar nesse jogo super-humano
Que poucos jogam, embora muitos crêem jogar.
Qual o quê ! Estamos todos desalojados,
Expulsos do Paraíso
Sem sequer um sorriso,
Uma carta, um bilhete, um aviso
De despejo por falta de decoro,
Por sucumbir ao desejo,
Ao sutil sentido
Que se aloja no ego
E nunca mais sai de cena.
Que pena ! Você curtiu ?
Então compartilhe à boca pequena
Com quem soube esperar até chegar a hora.
Agora é tempo de usufruir,
De se deitar, descansar... dormir...
— e depois acordar, sendo o seu colorido...