Cheio de vazios como o átomo

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] Abr./2020

Argollo Ferrão, A. M. de (2020). Cheio de vazios como o átomo [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/cheio-de-vazios-como-o-atomo/>.

Cheio de vazios como o átomo
Olhar para dentro de si
E sentir-se fora do mundo,
Este que conheci — em que me criei,
Neste — que eu criei — em que cresci.

Olhar e sentir-se distante, quase ausente,
Já que, de fato, eu quase sumi
Por não reconhecer os protocolos mais básicos,
De uma comunicação que eu nunca entendi.

Estou fora do mundo…
Como se nunca houvera estado aqui.

De passagem, um transeunte assiste
Comovido — e um pouco intrigado —
A tragédia que se desenrola em minha mente
Em meio a um cenário absolutamente surreal.

O mundo em que vivo — este atual —
Deixou de ser aquele em que eu vivi
E o tempo, senhor da razão,
Me oferece uma opção: sair daqui.

São impressões que se sobrepõem
Às mais simplórias atitudes cotidianas,
Diante de uma polícia repressora e onipresente
Que impede e recrimina o livre pensar.

Estou fora do mundo…
Como nunca houvera pensado estar.

Deixar-se — ser e estar — tornou-se um ato de coragem,
Quase rebeldia nesses tempos ditatoriais
Em que o pretensamente correto se impõe
Sobre as individualidades descartáveis por completo.