Poema concebido em Campinas [SP/BRA] mar./2016
Argollo Ferrão, A. M. de (2016). De verdade [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/de-verdade/>.
De verdade
Verdade que eu cheguei a acreditar na tua palavra,
O teu discurso era prenhe de esperança e otimismo.
De verdade, eu nunca desconfiei do teu cinismo
Capaz de garimpar rica pepita em meio à estranha lavra.
Mas o tempo foi cruel e desvelou a farsa que tu encenavas,
Desnudou-te a alma envergando-te os ombros, decepando-te a cabeça
Deixando-nos atônitos, incrédulos, estáticos
Diante das cabais tramoias que na calada engendravas.
Verdade que eu cheguei a acreditar
Que caminhando e cantando se chegaria a algum lugar
Seguro, fértil e ensolarado...
Vem vamos embora para onde a liberdade possa estar.
Verdade seja a base do equilíbrio e da temperança,
Do sentimento de fraternidade e tolerância
Entre irmãos que rejeitam a vã militância
Política, religiosa, cega, paralítica, vertiginosa...
Verdade é que eu sonhei com a igualdade,
Mas após a marcha que levou milhões às ruas neste mês
Ficou-me claro que a verdade que vendias como tal
Não passava de um fetiche democrático sem robustez.
Pós-verdades que exploravas sem pudor
Para assassinar a consciência da gente que não o vê
Como um boçal, um sacripanta usurpador
Da verdade – íntegra, límpida, essencial.
De verdade, a verdade dói mas prevalece no final.