Dois dedos de prosa

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] abr./2017

Argollo Ferrão, A. M. de (2017). Dois dedos de prosa [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/dois-dedos-de-prosa/>.

Dois dedos de prosa
Apenas lhe disse o que a mim não me pareciam tolices,
Ocultei-lhe meia dúzia de comentários céticos,
Poupei-lhe de minhas mais desvairadas sandices
Mas não dos meus métodos peripatéticos.

Caminhando e conversando eu consigo me concentrar
Na imagem que subitamente você me proporcionou
Ao mencionar a formação de uma família surreal,
Tão improvável como banal — de fato, foi o que se conformou.

Bato palmas somente no momento exato
De aplaudir, saudar ou cumprimentar a velha senhora
Que nos protege da fome nos oferecendo um bom prato,
E nunca nos cobra quando levantamos para ir embora.

Eu a vi e a reconheci como alguém que poderia surpreender
Com seu tamanho, proporcional ao de sua aura clara,
Livre dos preconceitos que habitam as cabeças de quem se declara
Ser uma pessoa de bem, que deseja ver a ordem prevalecer.

Ao final já se sabe que o estranho aos olhos do puritano
Muitas vezes sucumbe à força da realidade,
Que nem sempre se torna a base de toda a verdade,
Mas se consagra após consumado imenso dano.

Seja forte, mantenha-se distante de aventuras forjadas
Na indústria do entretenimento falsário e falacioso,
Como num jogo em que o jogador se torna pegajoso,
Como num rito que irrita as pessoas despreparadas.