Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2015
Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Insípido e limpinho [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/insipido-e-limpinho/>.
Insípido e limpinho
De fato me deu vontade de te reencontrar… Senti um forte desejo de revelar sentimentos outrora ocultos E constatar que meu velho costume de utilizar-me de anotações Num caderno de textos escritos a mão pode ser adaptado À suavidade enganosa de um teclado insípido ainda que limpinho. Logo percebi que o ritmo seria outro, E que voltar atrás poderia não me levar aos mesmos lugares de antes, Pelo menos não com o mesmo charme, nem com a mesma velocidade, Os rabiscos foram substituídos por uma tecnologia que oculta as marcas E aponta os erros, de modo que o texto se torna insípido ainda que limpinho. Frases curtas — ora que bobagem ! — para quê se preocupar com isso agora ? O desenho que se projeta numa folha de papel não se materializa numa tela, Pois o passeio que a esferográfica azul fazia deixou de ser feito, E o poema agora vem à tona surfando nas ondas de um “info-mar”, A fim de se livrar das linhas retas que o mantêm insípido ainda que limpinho.