Não adianta nada

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] out./2013

Argollo Ferrão, A. M. de (2013). Não adianta nada [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/nao-adianta-nada/>.

Não adianta nada
De que adianta tanta gente em volta,
Tanta gente sorrindo, batendo palmas
E me cumprimentando mesmo sem me conhecer,
De que adianta tanta simpatia e sociabilidade
Se quando olho nos seus olhos
Vejo o vazio que os engole
No dia-a-dia morno e burocrático
Que a todos mata aos poucos ?
De que adianta ver tanta gente assim
Se quando olham nos meus olhos
Não me veem em mim ?
Eu admiro quem desconhece a razão
De haver no mundo tanta gente
Que não usa a razão.
De que adianta comentar que esse
Ou aquele sujeito não se portou bem ?
De que adianta argumentar que
As pessoas necessitam de comunicação ?
Necessitam de espelhos em que possam enxergar
Somente o que lhes é dado ver…
De que adianta concluir que isso tudo
Revela uma sociedade que mal funciona
Com base em padrões de comportamento
Distorcidos — porque moldados —
Por um pensamento dominante ?