Poema iminente

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] dez./2015

Argollo Ferrão, A. M. de (2015). Poema iminente [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/poema-iminente/>.

Poema iminente
Quase dava para compor um poema...
Com elementos dispersos, todos passíveis de tocar o sentimento
Mais puro, ainda que inexato, fugidio, mas puro, sem dúvida,
Era tanta névoa que quase dava para escrever um poema.

Sim, um poema desses que nos deixam absorto, circunspecto,
Com o olhar de peixe morto, porém, muito esperto...
Sem contar vantagens, sem se preocupar com o amanhã,
Naquele instante quase dava para escrever um poema de hortelã !

E eu me senti estranho, meio por fora, achando que estava por dentro,
Meio tonto, um tanto quieto, meio com cara de paisagem,
Esbocei um sorriso para não perder a viagem e constatei
Que quase dava para escrever um poema de garagem !

Não resisti à tentação de cantarolar, e dizer frases de efeito,
Diluir minha filosofia de botequim no ambiente que se formara
Para saudar os jovens postulantes a poeta, amantes da poesia
Regada a chopp, conversa fiada e um bom toque de viola.

No fim da tarde percebi que não estava só...
Eram muitos a especular sobre o futuro do pretérito,
Patrimônio comum de quem preza a memória e a ilusão,
Ingredientes sem os quais não pode o poeta exercer sua função.

Saí de lá convicto de que poderia redigir para registrar minhas impressões
Sobre aquela atmosfera propícia a quem quer que se dispusesse a camuflar-se
Em meio a uma floresta de sentidos que bem sintetizava um grande problema
Para quem não sabia ler mas notou que quase dava para escrever um poema.