Sulcos e rugas

Poema concebido em Campinas [SP/BRA] ago./2011

Argollo Ferrão, A. M. de (2011). Sulcos e rugas [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/sulcos-e-rugas/>.

Sulcos e rugas
A diferença é brutal
Entre o céu e o inferno,
Entre o bem e o mal —
Quem disse que é tudo igual ?

A diferença é brutal !

Se você imagina que o beijo da menina
É tudo que há entre o mar e o astral,
Então você vai mal, vai muito mal...
Há muito mistério — e a vida nos ensina.

O aroma do chá da tarde,
Donzelas sorvendo o hortelã,
É pura ilusão, já sabemos,
O café garante a energia da manhã.

Amanhã de manhã vou pedir um café
Pra nós dois — três, quatro,
Cinco mil contos de réis...
Vão-se os dedos,

Quero o chá da tarde !

Ficam os anéis.
Ficam sim e para sempre ficarão,
Pois já estavam perdidos nessa profusão
De regras, métricas, rimas e papéis.

Burocracia que atrai
O besta que pensa que é bom
E seguro seguir regras tais
Que permitem vilipendiar o som

— do Mantra Om —

Sagrado e profano ato,
Sacrílego é quem negou o fato
De que gozou no momento exato
Da mais pura benção patriótica.

Não se trata de convencer
Quem quer que se meta a discutir
Em vão — é uma questão de óptica,
Ponto de vista de quem não quer ver.

Faz-se de cego diante da luz
Que ilumina o altar dos imbecis
E requer que se tenha cuidado
Para não ferir quem não enxerga um palmo

— diante do nariz —

Foi assim que se fez
A fama de quem sempre quis
Dizer o que faz, só fazer o que diz,
E pagar suas contas todo fim de mês.

Todo o ano, o tempo todo
Pagando... e sendo cobrado,
E tendo que pagar para não ser roubado
Sem saber que já o é — pobre coitado !

Íntegro ser, sem predicado.