Poema concebido em Campinas [SP/BRA] Ago./2020
Argollo Ferrão, A. M. de (2020). Redenção exotérica [web]. Disponível em <https://argollo.arquiteturadocafe.com.br/antologia/poetica/redencao-exoterica/>.
Redenção exotérica
É certo que você o redimiu, E o fez feliz porque o consagrou e se permitiu Apresentar-lhe o caminho para o êxtase e ao final sorriu, É certo — embora com algum esforço — que você conseguiu. Ele se portou como um senhor veterano, Solene, ponderado, sobretudo sério e soberano, Ciente de ter que lidar com uma evidente carência senil Que haveria de materializar em gozo todo o esplendor humano. Havendo quem pudesse descrever a cena que se construiu, Certamente notaria o nobre senhor de joelhos perante quem o redimiu, Em estado de adoração a uma jovem rainha negra que a África pariu E cuja benção se dava corpo a corpo em movimentos que ela mesma definiu. Muito pouco se perdeu naquela tarde mística, quase mítica, A não ser o pedestal do homem sério, carrancudo e provinciano, Imune aos anseios e armadilhas de uma pseudo conquista, Sábio ao se prostrar resignado diante de um sagrado triângulo pubiano. Ao fim dessa sessão exotérica — com “x" — Era nítido o sentido karmático, ainda que profano, De um puritano que ao ser consagrado sentiu-se feliz Por ter pecado e abençoado a quebra do marasmo cotidiano.